Na análise da "crise hídrica" que abateu sobre o Sudeste brasileiro entre meados de 2013 e o final de 2015, afetando drasticamente a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), podemos distinguir dois aspectos inseparáveis, embora distintos: de um lado, o evento climático extremo, marcado por uma queda sem precedentes na pluviosidade média da região; de outro, a crise de abastecimento de água provocada pela seca. Se o fato gerador foi a estiagem excepcional do período, a crise no abastecimento de água da metrópole configurou-se a partir de uma condição latente de vulnerabilidade e baixa resiliência que nada teve de acidental. Ao focalizar sua análise no Sistema Cantareira, o maior dos sistemas produtores de água da RMSP e o mais afetado pela crise, este livro mostra que a segurança hídrica dessa metrópole envolve arenas decisórias, sistemas sociotécnicos, cooperação e conflitos que operam numa escala macrorregional, interconectando diferentes aglomerações urbanas e bacias hidrográficas. O tratamento teórico-metodológico dado pelo autor a seu objeto de pesquisa faz da análise da crise hídrica de 2014-2015 na RMSP um estudo de caso aprofundado e profícuo de uma problemática bem mais ampla: a governança multinível da água nas bacias hidrográficas densamente urbanizadas numa era de grandes mutações e incertezas climáticas