A segunda edição desta Morfossintaxe do Português vem ocupar uma lacuna que se observa na literatura especializada em descrição gramatical. Isso porque este novo livro oferece ao leitor, mesmo os não familiarizados com detalhes terminológicos, uma descrição linguística aprofundada, que engloba tanto os itens gramaticais selecionados pelo usuário para expressar suas ideias quanto as regras que governam a combinação desses itens na formação de enunciados bem estruturados morfossintaticamente, sem perder de vista, obviamente, o caráter deôntico da linguagem.
Nesse sentido, o professor Fernando Peixoto Filho parte da premissa de que os vocábulos, considerados isoladamente, representam virtualidades metalinguísticas, potenciais morfossintáticos que se atualizam e se efetivam no discurso. Ao longo do livro, o autor demonstra a indiscutível correlação entre os vários estratos gramaticais, decorrente da permeabilidade que se constata entre as categorias morfossintáticas, admitindo-se expansão semântica e reinterpretação com novas taxonomias. Boa parte da complexidade subjacente à análise morfossintática se deve ao fato de que, no discurso, um vocábulo estará sempre suscetível a diferentes classificações, a depender do papel desempenhado por ele em relação a outros no interior da cadeia sintagmática.
A obra se divide em três partes: Gramática, Morfossintaxe e Sintaxe. A primeira delas apresenta acepções largamente difundidas na literatura para o termo ‘gramática’ e, ainda, traz à baila uma saudável discussão acerca do papel da gramática normativa nas aulas de Língua Portuguesa. A segunda elenca e conceitua as classes gramaticais, comparando os diversos critérios de taxonomia, oferecendo categorizações examinadas com vagar, e, sob a égide dos comentários de renomados gramáticos, o autor discute a aplicabilidade das conceituações citadas. A terceira parte é dedicada à investigação cuidadosa da sintaxe, em suas duas vertentes: a analítica e a relacional. Embora o autor focalize as relações que se firmam no âmbito microssintático, há referências à visão macrossintática, também denominada coesão textual. Nesse capítulo dedicado à sintaxe estrita, fica claro que o autor diverge da terminologia adotada pela tradição gramatical, oferecendo, para dar conta das eventuais incongruências terminológicas, uma nova roupagem aos constituintes.
Por tudo isso, convido a todos, estudantes de Letras, professores de ensino universitário, médio e fundamental, ou qualquer outra pessoa que se interesse pelos temas abordados, a percorrer a trilha engendrada pelo autor, pois, certamente, vão encontrar nas páginas deste livro explicações bastante elucidativas sobre o funcionamento morfossintático da língua portuguesa em sua modalidade escrita.
Katia Emmerick Andrade (UFRRJ)"