A partir de Kant, a filosofia se vê diante da seguinte questão: como falar do mundo sem recair numa metafísica dogmática ou pré-crítica? Essa é a tarefa realizada pelo idealismo pós-kantiano, analisada na presente obra em três densos ensaios pelos filósofos contemporâneos Markus Gabriel e Slavoj Žižek.
Cada um a seu modo, Hegel, Fichte e Schelling elaboram uma ontologia centrada na finitude e na reflexão, na qual a subjetividade ocupa um lugar central. Aqui, a incompletude não reside nos limites do conhecimento, mas no próprio tecido do real. Mitologia, loucura e riso são três marcas dessa finitude.
A mitologia não representa algo que escapa à razão ou ao pensamento conceitual, mas é sua condição de possibilidade; a loucura não é um acidente ou doença do espírito humano, mas algo inscrito em sua constituição ontológica. Esta lacuna constitutiva explica o caráter peculiar do riso de Fichte: em vez do "homem comum" que ri das extravagâncias e abstrações do pensamento filosófico, aqui é o próprio filósofo que ri dos pressupostos que fundam o realismo de senso comum.
Se a filosofia kantiana deu à epistemologia um lugar central, o pensamento de Hegel, Schelling e Fichte faz a passagem para uma nova ontologia. O retorno ao idealismo pós-kantiano realizado por Gabriel e Žižek baseia-se na aposta de que as questões suscitadas continuam ativas no pensamento contemporâneo.