Em "Missão Imperial e Destino Manifesto: o léxico da ideologia nacional dos Estados Unidos na Guerra Fria (1947-1991)", Sandro Marques dos Santos analisa como a liderança dos Estados Unidos se apropriou do chamado Mito do Destino Manifesto para apresentar a Guerra Fria como uma missão nacional a qual os norte-americanos estavam destinados. Por meio dessa apropriação, a "ameaça comunista" seria apresentada não como uma escolha política, mas como um dever nacional imposto, a depender do interlocutor, pela História, pela Providência, ou por Deus, ao povo dos Estados Unidos. Através dessa construção ideológica, a liderança do país esperou engajar a população em um conflito global sem precedentes em extensão e duração. O sistema capitalista seria defendido da ameaça de Moscou e de seus asseclas, mas apenas na medida em que essa defesa seria retoricamente investida de uma aura tradicional, como uma missão e destino nacionais. Como resultado do sucesso dessa construção ideológica, os Estados Unidos tomaram para si um direito-dever de intervir globalmente, como se os assuntos mundiais fossem uma quase extensão de sua política interna, característica que, consolidada durante a Guerra Fria, perdura até os nossos dias. Nesse sentido, estamos diante não de um estudo sobre a política externa imperialista dos Estados Unidos em si, mas sobre os meios que a legitimaram. Tal esforço de análise é fundamental para entendermos como milhões de norte-americanos se identificaram e se identificam com o projeto de hegemonia global do país.