Minhas queridas tem uma importância singular para entender a trajetória literária de Clarice Lispector e, mesmo, apontar novas leituras sobre a sua biografia. Organizado pela professora Teresa Montero, o livro traz 120 cartas inéditas escritas por Clarice Lispector para as irmãs, Tania Kaufmann e Elisa Lispector, entre 1940 e 1957. Enquanto relata suas impressões sobre as 31 cidades por onde passa, as novidades da literatura, da música, do cinema e do teatro, a descrição do seu processo criativo, suas angústias acerca da publicação e repercussão de seus livros, a escritora mostra a história do amor e da ternura entre ela e suas irmãs, onde a vida privada é pontuada por momentos importantes da história política da Europa e dos Estados Unidos.
A leitura se faz muito saborosa por permitir ao leitor partilhar da intimidade de Clarice Lispector. É comovente acompanhar a doçura com que trata as irmãs, frequentemente chamando-as de "bichinha" e o carinho com que sempre se refere à sobrinha, Marcinha. Traços pouco conhecidos de sua personalidade afloram nesta conversa entre irmãs, desconstruindo aquela imagem da escritora enigmática e de poucas palavras, cristalizada pelos comentários apressados e superficiais de quem não a conheceu de perto.
Numa época em que e-mails e mensagens de texto – todos imediatos – substituem a palavra sobre o papel, é fascinante mergulhar na correspondência de Clarice Lispector, acompanhar com ela a ansiedade de receber uma carta que levava semanas para chegar, as dificuldades para conseguir uma fotografia das irmãs ou da sobrinha, o êxtase de abrir um envelope contendo recortes de jornais brasileiros ou um livro. Cada carta de Minhas queridas é uma agradável surpresa para o leitor, tal qual as cartas de suas irmãs eram para Clarice.