A jornalista Bety Orsini adora implicar com dona Amélia, mas basta abrir a boca com mais uma reclamaçãozinha para receber na hora uma resposta espirituosa da mãe. O pensamento perspicaz e a rapidez das respostas da senhora de 80 e poucos anos – algumas delas funcionando como verdadeiras alfinetadas na pose da filha – provocam o riso não apenas de Bety, mas de quem toma conhecimento das histórias narradas por ela. Dona Amélia já foi tema de inúmeros textos da jornalista e agora algumas dezenas deles foram reunidos no lançamento Minha vida com mamãe e outras histórias de família.
É impossível ficar imune ao bom humor e à leveza da escrita de Bety Orsini. Sem meias palavras, trata de questões como o desejo de aprovação, a censura da mãe, a implicância da filha, enfim, do amor que sustenta esta relação. Este livro, tal qual amor de mãe, não tem pudores.
Logo no texto de abertura, a jornalista revela todo o encantamento que tem pela mãe e não mede palavras para ressaltar, especialmente, a importância de sermos afetuosos com esses seres que nos amparam nos momentos de fracasso, comemoram nosso sucesso, estão sempre prontos para nos cuidar quando ficamos doentes e ainda encontram um tempinho para fazer aquele bolo preferido ou cortar a manga em pedacinhos do jeito que gostamos.
Se, em alguns momentos, a jornalista comove com relatos sinceros sobre a criatura adorável com quem tem o prazer de conviver todos os dias, em outros ela leva o leitor às gargalhadas. Como na história sobre a ida ao INSS. A mãe não recebeu a pensão e lá se foram as duas até o serviço público. Lá chegando, descobriram que para o INSS dona Amélia havia morrido. A funcionária ainda argumentou que a senhora idosa estava um tanto diferente na foto da carteira de identidade apresentada. Dona Amélia não teve dúvidas e devolveu-lhe: "Minha filha, se você tirar uma foto hoje e olhar para ela daqui a 50 anos, será completamente diferente!"