Coisas difíceis não são para amadores, mas quem ama coisas fáceis não vive o ser, ou a própria vida, em sua plenitude. E como ser plena, cheia de si, em um mundo cada vez mais esvaziado de significados, onde a velocidade e a perda de empatia vão de encontro às subjetividades esfaceladas, que buscam desesperadamente a aprovação neste mesmo mundo que as atropela? Quem tiver a chance de ler Minha Suplicante Criança , do autor Tiago Maroto, vai se deparar exatamente com isso - um monólogo interior caudaloso, denso, cuja personagem, não por acaso uma mulher, enfrenta todas as suas vulnerabilidades e angústias frente a um mundo que parece girar na direção contrária de sua conturbada trajetória pessoal. Com uma pegada intimista e extremamente transgressora e reflexiva, em muitos momentos Minha Suplicante Criança lembra a nossa venerável e cultuada senhorita Lispector. Mas com um diferencial: aqui, a expressão Meu amor , que serve como marcação e pontua todo o monólogo interior da personagem, acaba soprando ao pé do ouvido do leitor um tom confessional, entremeado de divagações. Em uma de suas passagens mais inspiradas, é a personagem quem dá a deixa: (...) deve ter aparecido em mim um instinto de sobrevivência (...) e sobre ele eu pulei, e o agarrando com um pouco de ferocidade, me servi dele . E que fique aqui a minha deixa: Minha Suplicante Criança é aquela que quer nascer, aquela que não pode morrer, a que deseja desesperadamente dar seu grito de liberdade, romper os silêncios, sem amarras, fórmulas prontas ou aprovações prévias, mas que se entrega a plenos pulmões a dor e a delícia de viver. No mais, o texto de Thiago Maroto é Literatura, Teatro, palavra viva, eviscerada, ainda escorrendo sangue, o que for.