Mil Calares e Uma Boca Suja é uma tragédia filosófica contemporânea que cruza o lirismo da linguagem com a crueza da existência. Alternando entre dois núcleos — o simbólico, habitado por homens mascarados e um enigmático ator com cabeça de boi, e o realista, centrado no casal Ramiro e Mariana —, a peça desnuda o ser humano em sua essência mais frágil: o silêncio diante do medo, do desejo e da moral imposta. Entre orações de submissão e o grito contido, os personagens vivem os dilemas eternos entre o sagrado e o carnal, entre o amor e a culpa, entre a norma social e a fome de liberdade. Mariana desafia os limites da obediência e do afeto. Ramiro, espelho de um homem ordinário, alimenta-se de fé e ressentimento. Ambos, peças de um jogo cruel em que a vida cobra sua conta com juros existenciais. Ao final, resta o silêncio — aquele que é imposto, aquele que é temido —, enquanto a pergunta permanece: o que ainda é possível salvar da condição humana?