Num mundo marcado pela secularização, onde os jogos de forças - políticas, econômicas, militares e culturais - parecem ditar a ordem de coisas do ponto de mira puramente temporal, vem à lume esta obra. Diria que o escrito que repousa em suas mãos é absolutamente extemporâneo. Em dias conturbados e pobres em esperança, em que ressoam vozes do marxismo, da psicanálise, da relatividade, do positivismo lógico, do existencialismo, do evolucionismo darwiniano, encontra-se o ser humano em busca de algo que transcenda as propostas ou resoluções arquitetadas pelas correntes intelectuais a pouco apontadas. Se os filósofos se entediaram de Deus, o ser humano entediou-se do materialismo. Na tentativa de mostrar que espiritualidade não é coisa "para gente sem formação" e, doutro viés, tencionando conferir à disciplina de filosofia um status altamente social, do contrário que ela se torna quando fecha-se em conceitos, uma área contida num tratado repousando na gaveta de um móvel empoeirado, lançamos à apreciação da crítica literária esta empreitada, fruto do labor de um franco-atirador. Depois de mil frustrações, do desencantamento, das crises da razão e da racionalidade, da dura realidade nua e crua, depois do sepultamento de todos os sonhadores, surge esta obra em nome da inesgotabilidade do mistério. Este não é o ponto de chegada, é o modo de começar com o pé direito. Excelente leitura!