Qual seria o papel do desejo na formação da sociedade punitiva? E qual seria a questão subjetiva de fundo na formação do sistema de justiça criminal? É possível ser abolicionista penal sem ser feminista?
Nesta obra profundamente interdisciplinar, são costurados temas de criminologia, teoria feminista, literatura e filosofia que, mais do que responderem a estas perguntas, recolocam a questão criminal de uma outra forma, propondo questões que trazem à superfície reflexões que costumam ficar de fora do debate acadêmico.
Partindo da obra Três guinéus, de Virginia Woolf, a autora Sabrina Lasevitch traça as relações entre patriarcado e guerra, em um primeiro momento; entre guerra e sistema penal, em seguida; e, finalmente, localiza no coração do patriarcado uma das matrizes produtoras do desejo de punir.
Esta é, evidentemente, uma leitura do sistema de justiça criminal feita a partir de um prisma pouco usual, que Deleuze e Guattari chamaram de micropolítica do desejo. Fruto de uma intensa pesquisa de mestrado, o livro, apesar de apresentar uma densa e rigorosa construção teórica, é costurado por uma escrita fluida, didática e, por vezes, poética, o que confere uma agradável suavidade à sua leitura.
Assim, Micropolítica da abolição convida suas leitoras e seus leitores a experimentarem uma forma diferente de pensar o abolicionismo penal, colocando o devir-mulher no centro da questão e forçando o pensamento jurídico a um necessário salto de desterritorialização.