Meu amor, primeiro livro de contos de Beatriz Bracher, reúne dezoito narrativas breves da autora, mais um poema, "My Love", que encerra o volume e lhe empresta o título. Escritos e reescritos entre 2004 e 2008, esses textos, à primeira vista muito díspares, são intimamente ligados por um olhar crítico e ao mesmo tempo amoroso sobre a fragilidade da vida no Brasil contemporâneo. Ora é uma subjetividade dolorida e sutil que aflora e nos toca; ora é a violência urbana que explode sem disfarces na cara do leitor; ora são personagens do sertão mineiro que se mostram com suas contradições, sem concessões ao pitoresco.
É justamente essa variedade um dos pontos fortes do livro, que prova o arrojo com que Beatriz experimenta e questiona os limites que separam não apenas os gêneros literários, mas também os territórios do urbano e do rural no imaginário literário brasileiro. Isto sem resvalar num regionalismo anacrônico nem no realismo jornalístico, deixando sempre a porta aberta para o inesperado, a sugestiva poesia do cotidiano, por vezes crua, por vezes diáfana.
Se o romance vence por pontos e o conto por nocaute, como queria o argentino Julio Cortázar, Meu amor vence das duas maneiras ao mesmo tempo. É que no jogo de encaixe e desencaixe desses contos se entremostra uma outra história: a do Brasil de hoje.