Talvez a vida seja curta ou longa demais; e sua linearidade fria comece a se confundir, daí onde era metal e pedra, surge, raízes, ramos e bulbos. Das certezas ao vácuo. Assim se reconfigura aquilo que chamamos de realidade e se reconfigura, formando uma nova teia de sentido. De repente, o que tanto prezávamos se esvai e o sentimento de perda se conforta ao nosso lado.
Qual a novidade?
A obra de Pedro da Mota Pereira, "Metáforas do tempo: a grande noite", está prenhe dessas questões, porém não pretende respondê-las. Por vezes as amplificam até torná-las insuportáveis. Cumpre assim um dos destinos da arte: ir contra a reificação humana.
Num de seus poemas, o autor nos oferece um olhar privilegiado sobre trabalhadores de um porto qualquer, congela o tempo, e vemos gotas d'agua evaporando (em suas palavras: ...se esvaindo). Imediatamente retornamos desta perspectiva de olhar onisciente e caímos...(como o tombo do anjo divino?), sobre nossa própria vida. O eu lírico, assim nos convida a nos dar outra chance.
Dotado de humanismo marcante, "Metáforas do tempo: a grande noite", é orgânico – ainda que digital – e tem grandes requisitos para se tornar livro de cabeceira de seus leitores.