No terceiro capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, intitulado Delírio, Machado de Assis continua a explorar as reflexões introspectivas e filosóficas de seu narrador defunto, Brás Cubas. Este capítulo, curto mas densamente simbólico, narra um delírio vivido por Brás Cubas durante uma febre, oferecendo ao leitor uma mistura rica de crítica social, alegoria e humor. *O Delírio:* Brás Cubas descreve um delírio febril em que ele se vê elevado ao céu e confrontado com uma entidade alegórica. Este delírio serve como um dispositivo literário para permitir que Brás (e, por extensão, Machado de Assis) medite sobre a futilidade das realizações humanas e a natureza ilusória das ambições terrenas. A experiência onírica permite que a narrativa se desdobre de maneira surreal, ampliando o escopo da crítica social e filosófica. *Crítica à Ambição Humana:* Durante seu delírio, Brás Cubas é confrontado com a ilusão de grandeza e poder. Esta experiência simboliza a vaidade e a futilidade das aspirações humanas. A figura alegórica que ele encontra pode ser vista como uma representação da sabedoria ou do destino, que revela a insignificância das conquistas individuais no grande esquema do universo. Machado de Assis utiliza esta cena para sublinhar a crítica à sociedade que valoriza mais o sucesso superficial do que a verdadeira contribuição ou integridade. *Humor e Ironia:* O humor irônico de Machado continua a brilhar neste capítulo. Brás Cubas, mesmo em seu estado febril e delirante, mantém um tom de auto-ironia que reflete sua consciência crítica de si mesmo e das suas próprias limitações. O delírio não é apenas um escape da realidade, mas um espelho que amplifica as falhas e as pretensões do narrador, tornando-o um protagonista trágico e cômico ao mesmo tempo. *Reflexões Metafísicas:* O capítulo também aprofunda as reflexões metafísicas introduzidas nos capítulos anteriores. A experiência de Brás Cubas durante o delírio permite uma exploração mais profunda dos temas da morte, da imortalidade e da busca de significado. A visão celestial e o confronto com uma entidade superior sugerem uma dimensão espiritual e filosófica que vai além da crítica social imediata, questionando a própria natureza da existência e do propósito humano. *Estilo e Estrutura:* A linguagem de Machado de Assis no terceiro capítulo é especialmente rica em simbolismo e metáfora. O estilo permanece acessível, mas cada frase carrega múltiplos níveis de significado, convidando o leitor a uma interpretação mais profunda. A estrutura do capítulo, com sua descrição vívida do delírio e a subsequente reflexão de Brás Cubas, é cuidadosamente desenhada para manter o leitor engajado enquanto oferece camadas de significado. O terceiro capítulo de Memórias Póstumas de Brás Cubas continua a desenvolver a narrativa inovadora de Machado de Assis, utilizando o delírio febril de Brás Cubas como um veículo para aprofundar a crítica social e as reflexões filosóficas. Através de uma mistura habilidosa de humor, ironia e simbolismo, Machado desafia o leitor a reconsiderar as aspirações humanas e a natureza do sucesso e da realização. Este capítulo, embora breve, é uma peça crucial na construção da obra-prima de Machado, oferecendo uma meditação rica e multifacetada sobre a condição humana.