E se a consciência fosse uma prisão? Em Memórias do subsolo, Dostoiévski
inaugura a literatura do homem moderno através de um mergulho na mente de um
narrador que se debate entre o orgulho e a autodestruição.
Em meados do século XIX, um funcionário aposentado de São Petersburgo escreve suas
confissões. Amargo, contraditório, lúcido, ele se apresenta como um "homem doente" que
encontra prazer no sofrimento e no fracasso. Entre digressões filosóficas e lembranças de
humilhações, suas memórias revelam a luta contra o racionalismo, a recusa em aceitar leis
universais e a busca desesperada por afirmar uma individualidade que só se expressa em
paradoxos.
Mais do que um pequeno romance, Memórias do subsolo é um experimento literário:
Dostoiévski põe em cena o primeiro "anti-herói existencial", antecipando debates que ecoaram
em Nietzsche, Sartre e Camus. A cada página, o leitor é convocado a encarar o abismo de uma
mente que faz da dor um espelho e a se perguntar se também não habita esse subsolo.
A edição da Antofágica conta com tradução direta do russo de Francisco de Araújo e
artes a óleo de Kandro (André Albuquerque). A apresentação é assinada por Yuri Al'Hanati,
criador do projeto Livrada!, e os posfácios reúnem análises de Claudia Chigres, professora de
Letras da PUC-Rio, do crítico de cinema Raul Arthuso e do escritor, professor e youtuber Flávio
Ricardo Vassoler, que iluminam os desdobramentos filosóficos e literários desta obra que
mudou para sempre a forma de narrar a subjetividade.