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Memórias de uma infância de subúrbio

Memórias de uma infância de subúrbio

Sinopse

A memória dos banguenses é característica há muito reconhecida. Bangu tem um raro museu criado e mantido por locais. O bairro foi catalisador de teses, contos e romances que circulam mundo afora. Um lugar de personagens e instituições com grande responsabilidade sobre isso que chamamos de carioquice, mesmo sob condições nada atlânticas. Todo banguense é um lembrador. Traz consigo recordações de varandas e calçadas cheias de gente com calor como se estas fossem ágoras e arenas até nos dias mais triviais. Dos sábados, recorda anos inteiros. Transmite uma história materialmente culturalista, acelerada como máquina a vapor. Estampa no tecido do tempo excitações únicas porque, antes, banguenses. Disso tudo, cria as memórias comuns a quem dali saiu e que, por isso, seguiu gostando de gente e de contar o passado que anda com a gente. Quando, por exemplo, um banguense fala das excepcionalidades de sua mãe, não é porque os demais não têm mães também admiráveis, mas porque a maternidade ali naquela esquina da existência é coisa distinta. Não é culpa da água que lá se bebe, mas daquela que tipicamente escorre pelo rosto. Trata-se de ser mãe (ou pai, ou tia, primo, vizinha, o que é passageiro e o que é motorista!) num Rio que se pensa e se projeta como suburbano, fabril e o mais quente. São pressupostos geográficos, filosóficos, atmosféricos! O Viana, pai da Maíra, amiga que as ciências sociais me trouxeram, me escolheu para essa orelha não por uma coisa ou outra que escrevi. Ele o fez porque percebeu em mim o mesmo que ele possui há tempos: um apreço descarado pelo mais acalorado bairrismo carioca, que muito se gaba e a ninguém ofende. Que se acha ali entre os tamborins de Padre Miguel e a sombra da Pedra Branca, flutuando nos corres da avenida Brasil e nas pipas que caem sobre Moça Bonita, imerso no microclima mais estimulante que Deus poderia lançar sobre vidas suburbanas. João Felipe Pereira Brito