Publicado de forma anônima em 1854, o único romance do jornalista carioca Manuel Antônio de Almeida é singular também no quadro da literatura brasileira do seu tempo. Distante da sensibilidade romântica então vigente, a narrativa cômica das peripécias do malandro Leonardo dispensa de saída o tom elevado — e tantas vezes afetado — da literatura com L maiúsculo.Com vivacidade e uma linguagem próxima da fala das ruas, sem cerimônia ou sombra de intenção moralizante, o romance nos conduz pela mão por becos, boticas e batuques do Rio de Janeiro do "tempo do rei" — ou seja, D. João VI. É um mundo divertido, mas perigoso, que o autor pinta com talento de cronista e que povoa de tipos humanos habituados a lutar pela sobrevivência na fronteira da legalidade, para quem as noções de certo e errado estão sempre trocando de lugar.