Quando se fala em Luís de Camões as pessoas pensam logo em Os Lusíadas. É natural. A epopeia camoniana é como uma imensa montanha, lançando sombra sobre tudo que lhe fica próximo. Resume o povo português e suas aspirações, sendo, como observou Gilberto Freyre "a mais completa das autobiografias coletivas que um homem de gênio já deixou de sua própria gente".Mas ao lado do épico, há um poeta da mesma altitude, mais próximo das pessoas comuns, cantando como nunca se cantou em língua portuguesa sentimentos como o amor, a amizade, a gratidão, em versos tão fortes e pungentes e com palavras tão lindamente ditas que até parecem escritas diretamente para cada leitor. Esse milagre de gênio se explica pelo fato de cada poema lírico de Camões ser fruto de uma situação vivida com intensidade, em uma vida de muitos amores, aventuras e desilusões. Luís de Camões (1525?-1580) nasceu em uma família da pequena nobreza lusitana, decaída e empobrecida, em local ignorado, talvez Lisboa. A formação cultural se deu em Coimbra, onde adquiriu a imensa cultura expressa em sua epopeia. Na mocidade, frequentou os meios aristocráticos e a boemia, pelas ruelas noturnas de Lisboa. Envolveu-se em brigas, relacionou-se com meretrizes do Bairro Alto. Por razões misteriosas, nunca frequentou os meios literários.Como soldado, combateu contra os mouros em Ceuta (Marrocos), perdendo um dos olhos em combate. Em 1552, após ferir um funcionário do Paço, é preso e enviado a Goa. Viveu dias difíceis no Oriente. Em um naufrágio na costa da Cochinchina perdeu os bens e a companheira chinesa, atingindo a costa a nado, com o manuscrito de Os Lusíadas. Só regressou a Portugal em 1569. Três anos depois publica Os Lusíadas. Graças ao poema, obteve uma pensão concedida pelo Estado, modesta e paga de maneira irregular. Dizem que curtiu miséria e fome.