Guilherme de Almeida (Campinas, SP, 1890 - São Paulo, SP, 1969) viveu uma longa fase da história da poesia brasileira, que se estende do período crepuscular que antecedeu o modernismo ao surgimento e consolidação de movimentos como o concretismo ou a poesia praxis, chocantes à sua sensibilidade educada nos velhos clássicos. Foi mais de meio século de atividade, em que o poeta exibiu um raro virtuosismo e domínio da língua, compondo poemas de sabor camoniano (Camoniana, 1956), recriando a atmosfera de velhos romances populares portugueses (Pequeno Romanceiro, 1957), parodiando a poesia grega clássica (A Frauta que eu Perdi, 1924), cultivando o verso parnasiano, simbolista, modernista (Meu, Raça, Encantamento, todos de 1925), mas sem nunca abandonar a nota romântica, predominante ao longo de toda a sua vasta obra. Os seus primeiros livros, anteriores à Semana de Arte Moderna - de Nós (1917) a Era uma Vez... (1922) -, revelam uma poesia de meios-tons, em que o agudo sentimento da beleza se harmoniza com um certo artificialismo, muito ao gosto da sociedade de então. Tanto assim que os seus livros andavam nas mãos de todas as moças. A adesão ao modernismo evidencia um desejo de se ajustar ao gosto do tempo, mas não representa nenhuma mudança significativa em sua obra. Dispensa "a rima e a métrica, mas a alma romântica continua", observa Carlos Vogt no prefácio Melhores Poemas Guilherme de Almeida. O poeta se manteve fiel às suas tendências pessoais, o que lhe foi muito benéfico. Os seus livros desfrutavam de uma popularidade a que nenhum modernista chegava perto. Essa popularidade se manteve até a última fase de sua obra, caracterizada por uma linguagem mais enxuta, menos rica de emoção, mas na qual ainda se sente, um tanto enfraquecida, a voz do velho romântico.