Primeiro grande poeta brasileiro, descendente das três raças que formaram o país - o negro, o índio e o português -, Gonçalves Dias soube expressar com engenho e arte, como nenhum outro romântico, as sugestões do ambiente brasileiro e as tradições indígenas, além de demonstrar simpatia pelo negro escravo e recriar a balada medieval lusitana nas Sextilhas de Frei Antão, numa espécie de homenagem ao sangue das três raças que circulavam em suas veias. Nascido em Caxias, Maranhão, em 1823, filho de um comerciante português e uma cafusa, logo abandonada pelo pai, Gonçalves Dias formou-se em leis, em Coimbra (1844). Dois anos depois, publicou no Rio de Janeiro o seu livro de estreia, Primeiros Cantos, que lhe deu fama no país e em Portugal, saudado por Alexandre Herculano como "inspirações de um grande poeta". A fase que vai até 1851, quando saíram os Últimos Cantos, constitui a melhor parte da sua obra poética, onde se encontram os seus poemas mais inspirados e populares, inclusive a Canção do Exílio. E também a parte mais significativa da poesia indianista (classificada por ele como "poesias americanas"): I-Juca-Pirama, Marabá, Canção do Tamoio. A lírica de Gonçalves Dias inspira-se na natureza, na religião, mas sobretudo em seus conflitos íntimos, em um certo fundo de permanente melancolia que lhe marca o temperamento e contagia a sua poesia amorosa. Nesse terreno, nenhum poema supera o extraordinário "Ainda uma Vez - Adeus!", dos mais belos que já se escreveu no Brasil, suficiente para imortalizar um poeta. Aclamado ainda em vida como "o poeta nacional por excelência" (José de Alencar), apontado mais tarde como um lídimo exemplar "do genuíno povo brasileiro" (Sílvio Romero), Gonçalves Dias nada perdeu de sua grandeza.