Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), o grande nome da poesia portuguesa no século XVIII, desde cedo sentiu-se predestinado à missão de poeta, com os seus componentes habituais de tragédia e sentimentalismo, segundo o modelo camoniano. Aos 16 anos foge de casa, ingressando na Academia de Marinha. Durante o curso leva uma vida de dissipação e boemia, canta os seus amores com uma certa Gertrudes.Em 1786, segue para a Índia, passando pelo Rio de Janeiro. Na colônia, entrega-se à devassidão sem limites, envolvido com amores baixos. Acaba desertando e regressando a Portugal, onde encontra Gertrudes casada com seu irmão. Acolhido pelos poetas da Nova Arcádia, adota o nome de Elmano Sadino. Insubmisso e mordaz, logo se desavém com os colegas, que satiriza em versos violentos. Preso como autor de "papéis sediciosos", logo entregue à inquisição, consegue transferência para o convento dos oratorianos, de onde sai precocemente envelhecido, renegando o seu passado dissoluto.A poesia de Bocage se caracteriza pela busca de superação de contrastes íntimos e pungentes, amores puros e depravados, a morte como ameaça e libertação, os conflitos entre a fragilidade humana e a bondade natural, baseado nas teorias de Rousseau, mas mesmo em seus momentos de maior sordidez confiante na benevolência divina e na intervenção miraculosa da Virgem Maria.Por temperamento e pela sua vivência, apesar das alegorias arcádicas e das notas iluministas, Bocage foi um precursor do romantismo. Um pré-romântico, com "seu gosto pela solidão e pelo silêncio, pelas sombras povoadas de mochos ou fantasmas, pela natureza agreste, às vezes Locus horrendus, pela tristeza e pela morte, pelo amor do amor", sobretudo nos sonetos, como observa Cleonice Berardinelli no prefácio.