Alphonsus de Guimaraens com a sua poesia mística, seu companheirismo com Deus ("Ninguém anda com Deus mais do que eu ando"), sua intimidade com a morte ("Sempre vivi com a morte dentro da alma,/ sempre tacteei nas trevas de um jazigo"), seus amores meio irreais e mórbidos, sua devoção a Nossa Senhora e sua humildade, foi uma espécie de aprendiz de santo perdido nas montanhas das Gerais.Habitando velhas cidades mineiras - Ouro Preto, Conceição do Serro, Mariana -, vivia de fato em uma outra dimensão, um mundo pessoal com incertas conexões com a realidade terrena, expresso com extrema delicadeza em sua poesia crepuscular, de contornos vagos, com uma suave música em surdina, patética como um cantochão, iluminada pela suave luz do luar, uma das obsessões do poeta, "o luar, que só para quem sofre existe".Que ninguém duvide da sinceridade dessa poesia. Se o simbolismo não existisse, o poeta por certo encontraria uma expressão semelhante. A fonte estava em sua própria vida cotidiana. Vivendo sempre em pequenas cidades, sem contatos intelectuais, tão estimulantes para o escritor, Alphonsus fez da poesia elemento de comunhão e evasão. As duas corriam em paralelo. A evasão do mundo (que começava em seu nome literário arcaizado e latinizado), o enclausuramento em seu mosteiro ideal, a exemplo de tantos místicos, foi o caminho mais curto - ou talvez o único possível - para a comunhão com Deus, através da fé católica, tão poderosa em sua obra.