Desde o seu primeiro livro de poemas, lançado em 1965, Affonso Romano de SantAnna se impôs como uma voz singular na poesia brasileira. Canto e Palavra revelava um poeta de lirismo duro, pétreo, de olhos abertos para a vida, atento às sugestões e inquietações do cotidiano, personalíssimo, com maturidade para buscar o seu próprio caminho. Desde logo ficou claro que o caminho do poeta começava, passava e terminava na busca do humano e na identidade com o seu tempo de angústias e perplexidades, sem excluir o lirismo amoroso nem se esquivar às preocupação com os mil e um transes e pesadelos diários vividos pelo país, então no auge do regime militar. A essa busca humana aliava-se a procura de sua identidade poética e de novas perspectivas técnicas para o seu ofício, expressa nos poemas reflexivos de Poesia sobre Poesia, e que, de certa forma, se prolonga em A Grande Fala do Índio Guarani. Aqui, começa a se impor a preocupação com o destino do Brasil, a necessidade intrigante de entendê-lo e amá-lo, que culmina em Que País é Este?, "livro provocado pelo espanto de coisas corriqueiras" (Donaldo Schuler). Com ele, Affonso ingressa no seleto grupo de grandes poetas brasileiros. A crítica chegou a apontá-lo como "o grande poeta brasileiro que obscuramente esperávamos para a sucessão de Carlos Drummond de Andrade" (Wilson Martins). Depois de fixar os olhos em seu país, o poeta se volta para o mundo e o mistério do cosmos, que palpitam em A Catedral de Colônia (1985), uma espécie de símbolo intemporal de beleza e de perenidade, uma metáfora da história, em contraste com a brevidade da vida humana. Em seus últimos livros, o poeta revela crescente preocupação com a grande incógnita da vida e da morte, pressentindo o amargo momento da partida: "uma quase tristeza/ de quem amando tudo isto/ teve que se retirar".