Dizem que a boa crônica é como um passeio sem sair da poltrona, graças às artes mágicas do cronista. Se assim for, as crônicas de Zuenir Ventura são como um grande passeio pelo Brasil, os múltiplos Brasis que convivem entre as fronteiras amazônicas e o oceano Atlântico, um país marcado pela violência, os conflitos sociais, as espertezas de toda espécie, mas também por um invejável senso de humor, muito mais interessante e espontâneo que o tal sense of humour dos ingleses, um negócio meio artificial, feito de ironia e desilusão. No humor um tanto ingênuo do brasileiro palpita vida, irreverência, esperança, por vezes sarcasmo e violência. Como entender esse país contraditório, esbanjando alegria de viver, rebelde e conformado, ao mesmo tempo?Muitos já tentaram decifrar o enigma. O cronista tem também as suas explicações, formuladas na instigante crônica O Brasil o que é? A conclusão? Bem, o Brasil não é um país para principiantes. E ninguém melhor do que Zuenir conhece essa verdade elementar. Ele é um veterano no conhecimento do Brasil.Como jornalista viajou milhares de quilômetros pelo país, embrenhou-se na selva, conheceu moradores da floresta e das favelas, as igrejas baianas e mineiras, os pampas e o sertão, conviveu com escritores, músicos, homens públicos. Como morador do Rio de Janeiro elegeu a cidade, uma espécie de síntese dos mil e um contrastes do Brasil (que podem ser apreciados numa viagem de Ipanema ao Complexo da Maré) como um dos motivos preferidos de suas crônicas.E desses fatos, personagens e cidades, Zuenir Ventura extrai a matéria viva de suas crônicas, pessoais, leves e incisivas, com ligeiras pitadas de ironia e um intenso poder de comunicação, nas quais "domina a arte mais difícil que existe, a arte de parecer que não há arte" (Luis Fernando Verissimo).