O cronista Ignácio de Loyola Brandão mantém um caso de amor e ressentimento com a cidade de São Paulo. Como em toda relação desse tipo, a ternura convive com a irritação, as palavras de carinho podem se transformar em setas envenenadas, cheias de queixas, os pequenos problemas do cotidiano costumam se sobrepor aos grandes safanões que a vida dá a cada um, apaixonado ou não. São Paulo é a grande personagem do cronista. E assim foi desde que esse paulista de Araraquara, jornalista de profissão, chegou a São Paulo, no longínquo ano de 1957. Autor de romances de sucesso, com mais de quarenta livros publicados e mais de um milhão de volumes vendidos, pode-se dizer que é na crônica que Ignácio de Loyola expressa com mais veemência as suas opiniões e reações, ou, pelo menos, aquelas opiniões e reações nascidas do atrito diário com a vida e a cidade que escolheu para viver, amar e se irritar. Claro que o cronista, homem viajado, conhecendo muitas cidades, gosta também de contar as suas vivências, encantamentos e decepções vividos no exterior. Mas, em cada uma das crônicas, situadas longe do ar poluído da Pauliceia, parece que se ouve sempre, numa surdina eloquente, a voz de São Paulo. É uma fatalidade abençoada pelos leitores que, dessa forma, através da prosa limpa e clara do cronista, têm oportunidade de juntar ao prazer com a leitura do texto o prazer de descobrir e saborear aspectos da sua cidade. Ignácio de Loyola dela nos dá um retrato de corpo inteiro, denunciando as suas mazelas (o barulho permanente, as ruas esburacadas, o trânsito caótico) e os aspectos agradáveis: as incursões pelos sebos, os prazeres gastronômicos e a redenção de todas as irritações e protestos, quando o cronista, do alto do seu apartamento, lava os olhos nas cores da aurora e se reconcilia com a sua cidade. Amor e ressentimento.