Affonso Romano de SantAnna acredita no poder mágico da crônica interferir no cotidiano, mudar a cabeça dos homens, contribuir para um mundo melhor, com mais amor e menos ódio, mais entendimento e menos preconceito. O efêmero é o seu elemento, mas como o efêmero do mundo se torna permanente, de tão repetido (mudam os personagens, o drama continua o mesmo), a sabedoria do cronista consiste em dar um toque de eternidade àquilo que é fugaz por sua própria natureza. Aos olhos do cronista - o "doente de seu tempo", como o definiu Affonso -, qualquer acontecimento é digno, "as pobres ocorrências de nada, a velha anedota, o sopapo casual, o furto, a facada anônima, a estatística mortuária, as tentativas de suicídio, o cocheiro que foge, o noticiário em suma", como sintetizou Machado de Assis há mais de cem anos. Esses fatos miúdos e outros característicos de nossos dias (a bandidagem, a violência, a corrupção, a selvageria crescente das guerras: políticas e do cotidiano) estão presentes nas crônicas de Affonso, mas o que nelas predomina é uma preocupação quase obsessiva com a beleza, o amor e as mulheres. A propósito, leiam-se as crônicas "O Surgimento da Beleza", "Amor, o Interminável Aprendizado" e "O que Querem as Mulheres?". Como se vê, o cronista sabe fisgar o leitor desde o título ("De que Ri a Mona Lisa"; "Casada, Amando Outro"; "Mistérios Gozozos", entre outros). A sedução se acentua na frase inicial da crônica, sintética e instigante. Alguns exemplos: "A corrupção não é uma invenção brasileira"; "O surgimento da beleza paralisa tudo"; "Sei que as pessoas estão pulando na jugular uma das outras". Testemunha de sua época, "escrevendo para o seu tempo", o cronista-poeta Affonso Romano de SantAnna, como acentua Letícia Malard no prefácio às Melhores Crônicas Affonso Romano de San´Anna, "escreve para muito além dos horizontes do seu tempo".