Ao longo de sua vida, Lima Barreto construiu uma obra literária profunda e variada. Foi autor de contos, romances e crônicas de jornal. Sua produção no campo dos contos tornou-o inegavelmente respeitado. E o melhor desta parte da produção ficcional do escritor encontra-se presente neste Melhores contos Lima Barreto, que sai agora em nova edição, em formato pocket.A seleção e o prefácio são de autoria do jornalista e crítico literário Francisco de Assis Barbosa, um dos primeiros intelectuais que se dedicou a escrever uma biografia do escritor, intitulada A vida de Lima Barreto (1881-1922), publicada em 1952.Negro e de origem humilde, Lima Barreto dedicou-se com esmero a abordar de forma direta ou indireta em seus contos as injustiças sociais de seu tempo. Neles, temos narrativas brilhantemente construídas, nas quais Lima Barreto soube retratar com perspicácia e ironia os atrasos da República Velha e a falta de visão dos membros das elites brasileiras da época, cuja única preocupação era, acima de tudo, o lucro. Um bom exemplo é o conto "A nova Califórnia", em que toda uma cidade – Tubiacanga – entra em polvorosa diante da possibilidade apresentada por um novo morador, chamado Raimundo Flamel, a algumas pessoas importantes da cidade: transformar os ossos dos mortos em ouro. Com a notícia, o pânico se instala na localidade e muitos moradores só conseguem pensar em como transformar tal oportunidade em realidade.Outro conto presente nesta coletânea é "O homem que sabia javanês", narrativa que aborda de forma jocosa a falsa sabedoria e o modo artificial de vida de diversos homens letrados que se julgavam superiores ao restante da população. O conto narrado em primeira pessoa traz a história do malandro Castelo, que, como forma de ganhar a vida, ludibria pessoas da alta classe apresentando-se como professor de javanês. Na história, ganham destaque todas as artimanhas do discurso de Castelo ao expor seus dotes linguísticos ao Barão de Jacuecanga, homem de posses que se interessa por "aprender" o idioma com o protagonista.Como afirma Francisco de Assis Barbosa no prefácio, Lima Barreto "retratou certos políticos e certos literatos como o eram de fato: caricaturas de líderes e caricaturas de escritores. Através desses personagens-símbolos, ressurge sem retoques e sem distorções toda a mentalidade de uma época, com as suas franquezas e alienações, que predominou no Brasil nos primeiros quarenta anos de nossa vida republicana."