"Ele, quase todas as noites, dedica-se a parir suas desejadas palavras. Ela,
sempre silenciosa e ao lado dele, penetra frases, parágrafos e versos. Ela
penetrando. Ele parindo. Ela penetrando. Ele parindo. Que inversão de papéis!
E o tempo dança para ambos, tocando-lhes o rosto com ternura. [...] Até que
Frida Kahlo sai do autorretrato que o casal havia comprado [...] e, muito
lentamente, começa a tirar a roupa. Pega uma bebida. Bebe na garrafa
mesmo. E depois outra. E outra. E outra. [...] Olham-se. A pintora mexicana sai
totalmente nua pela porta da casa. Mas antes, entrega uma caneta. Nela, está
gravado: 'É preciso parir palavra e arte também, Mujer. Chega de silêncios.'" (A
caneta)"- [...] Também nunca amei sua mãe, tios e primos. Odeio a
maternidade. Ainda não me recuperei da violência de ter sido casada aos 10
anos." (Marias)Linhas de sentidos outros tecem os contos que compõem este
livro. Neles, passados, presentes e futuros estão ligados pelas vidas de Marias
que vão e que não vão com as outras, conectadas pelo ontem que há no hoje e
pelo hoje que não se deseja no amanhã.