Um louco manso, vestido exoticamente, atravessa o sertão no final do século XIX como um Dom Quixote brasileiro, cuja missão é inspirar as pessoas na reconstrução da gloriosa Minas Gerais. Assim é Lucas Procópio, o protagonista que dá nome a esta obra do premiado Autran Dourado.
Lucas é acompanhado por Jerônimo – negro alforriado nascido Omoro Binte, príncipe na África, mas vendido como escravo –, que segue o patrão por lealdade e gratidão, e Pedro Chaves, feitor violento e vingativo. A determinação de Lucas é exercitada pela retórica e poesia, e Cláudio Manoel da Costa, autor de Vila Rica, é a referência principal. A caminho de Duas Pontes para tomar posse da Fazenda do Capão Florido, obtida por herança, ele experimenta o sucesso e o ridículo da sua condição de pregador em Itapecerica e Alfenas, cidades que cortam na peregrinação ao sul nesta primeira parte do romance, intitulada Pessoa. Entretanto, mesmo decidido a prosseguir, ele precisa conviver com a tensão entre o negro e o feitor, cujas ameaças mútuas de morte são constantes. Pedro Chaves, contudo, tem um plano, e pretende colocá-lo em prática assim que surgir uma boa oportunidade. O desfecho surpreendente é o ponto de partida para a segunda parte, Persona.
Isaltina domina a narrativa a partir desse momento. Educada na corte, fina e culta, ela é obrigada a casar com o estranho e violento coronel da Guarda Nacional, e com ele tem dois filhos: Teresa e João Capistrano (protagonista do romance Um cavalheiro de antigamente, também lançado pela Rocco). Ela vive com o marido uma relação difícil, e vê no padre Agostinho Saraiva uma oportunidade para pôr fim ao seu sofrimento. Mas a tragédia se abate sobre ela de forma ainda mais intensa.
Dourado novamente interliga personagens e suas histórias tendo como ponto coincidente a cidade de Duas Pontes.