Onde começa a Literatura e onde termina a Psicanálise? Como elas se imbricam? Essas perguntas percorrem o universo descortinado por Literacura, em que Fernanda Sofio propõe, em encantador diálogo com Fabio Herrmann, pensar a Psicanálise a partir de suas formas literárias. Ao procurar consolidar o espaço da Psicanálise no campo da Literatura, da interpretação, o livro aponta como o método de uma e a qualidade estética de outra se combinam na obra de diversos autores, com destaque para a do criador do pensamento psicanalítico, Sigmund Freud. É a partir da análise de algumas "ficções freudianas" publicadas por Herrmann que este trabalho revela a importância da ficção literária para a Psicanálise, apontando a possibilidade de dar forma a algumas de suas principais noções teóricas, como a construção da identidade e os conceitos de inconsciente e representação.
As investigações da autora conduziram-na a um processo de experimentação que também é apresentado neste livro: o de converter aspectos de sua atuação clínica em ensaios literários. Nesse exercício de transformar em ficção a escrita de sua prática profissional, Fernanda Sofio mostra que a clínica é a chance de apanhar, pelas estórias, o lugar onde o sujeito se vê enovelado. O peso desse novelo (ou dessa novela) pode ser insuportável; a clínica, no entanto, tece uma rede de escutas e sentidos, andaime em que o sujeito pode se descobrir mais leve, não de todo solto, mas correndo solto nas malhas de palavras que o sustentam. Dessa cena nasce um sujeito outro, mais ágil, pronto para criar sua história: literacura.