O falar sertanejo que o escritor e pesquisador Petrônio Braz garimpou,
selecionou e organizou nessa valiosa obra, Léxico dos Gerais, traz para o
papel o jeito e a percepção dos habitantes do Sertão. Confere legitimidade ao
falar dessa gente que desde tempos pré-históricos circula pelas margens
esquerda e direita do Velho Chico, onde Guimarães Rosa localizou o Grande
Sertão. Faz desse acervo, em constante mutabilidade, uma obra única, que
agora tenho a honra de apresentar.
O universo que o Autor pesquisa é o sertão do alto-médio Rio São Francisco,
um dos mais importantes cursos d'água do Brasil e da América do Sul. De São
Roque de Minas, onde nasce, até desaguar no Oceano Atlântico, atinge 2.830
quilômetros de extensão. Chamado Opará pelos índios locais, ou
carinhosamente Velho Chico pelo povo da região, seu entorno não se limita às
suas margens, abraçando também a zona sertaneja semiárida e as terras
férteis dos afluentes e vazantes. Sua influência na vida e na história regional é
imensa, podendo-se destacar episódios como o seu "descobrimento", atribuído
ao florentino Américo Vespúcio – que o rebatizou o São Francisco, nome do
santo do dia – ou sua intensa utilização no ciclo do ouro, seja como rota
comercial, seja como fonte de sustento para as muitas cidades que foram se
formando às suas margens.
O rio é a estrada. O rio é também o caminho das palavras...
Toda a cultura formada no curso dessas águas é matéria-prima do Léxico dos
Gerais.
Marta Verônica Vasconcelos Leite