Lampião, a estreia de Rachel de Queiroz na dramaturgia, volta às livrarias em projeto especial que rememora a primeira edição de 1953.
Rachel de Queiroz já era romancista consagrada quando decidiu se aventurar na dramaturgia. Diante do desafio, a história de vida de Virgulino Ferreira da Silva, o bandido que liderou o bando de cangaceiros mais famoso do sertão nordestino, foi escrita com a carga dramática e a nervura social pelas quais a autora ansiava. Lampião se tornou uma figura única no imaginário popular. Seus trajes, típicos de vaqueiros e jagunços dos anos 1920, a pose imponente e desafiadora nas fotos, e até seus óculos de aro fino – item raro para as classes populares daqueles tempos, que Lampião, cego de um olho, ostentava no rosto – constituíam sua persona mítica.
Revirando essas referências mais imediatas, Rachel de Queiroz construiu seu Lampião destemido e, por vezes, frágil. Seu protagonista desafia o interventor de Pernambuco a lhe ceder o governo do sertão, mas também fica ressabiado com os perigos que o circundam, o que leva Virgulino a recorrer à proteção espiritual de seu Padrinho Padre Cícero, figura religiosa de grande prestígio no Nordeste. Na peça de Rachel de Queiroz, também se destacam Corisco, bandido talentoso e fiel a Lampião, e Maria Bonita (apresentada inicialmente como Maria Déa), que abandona o marido e os filhos para ser esposa do Rei do Cangaço, acompanhando-o até nos confrontos a bala.
Em 1954, Lampião estreou nos palcos. Destacam-se duas montagens: em São Paulo, no Teatro Leopoldo Fróes, com direção de Sérgio Cardoso (que também interpretou Lampião) e Araçary de Oliveira como Maria Bonita; e no Rio de Janeiro, no Theatro Municipal, com direção de Bibi Ferreira e Elísio de Albuquerque no papel principal.
Este volume especial reproduz o projeto gráfico da primeira edição de Lampião, lançada em 1953 pela Livraria José Olympio Editora. Na capa, Lampião e Maria Bonita são ilustrados por Tomás Santa Rosa, icônico artista gráfico responsável pelos projetos editados por José Olympio nos anos 1950. No miolo, replica-se o estilo da antiga impressão em tipos móveis. A nova edição de Lampião celebra, portanto, o esmerado texto de Rachel de Queiroz, que retorna em boa hora ao grande público.