Cinco músicas de jazz nomeiam os cinco contos de Keith Jarrett no Blue Note. A estadia no estrangeiro, o sentimento amoroso e erótico, a dúvida existencial marcam a tonalidade variada das histórias reunidas neste volume.
As folhas secas na calçada que ninguém se lembrou de recolher, a revista pornográfica, a comunicação interrompida, a angústia da voz do outro lado do telefone, a pessoa amada que morreu — notas de alguns contos deste livro, em que a vida no estrangeiro pulsa no desencontro, no desejo e na incerteza. Numa atmosfera intimista, as paixões homoafetivas de personagens envolvidos com as lembranças de experiências passadas desenham-se sutilmente.
Em Keith Jarrett no Blue Note, a solidão e os vínculos afetivos são submetidos ao arranjo jazzístico de Silviano Santiago para compor uma coletânea que mescla a quietude ao som em tempos variados.
"Que o leitor não se engane se pensa tratar-se este volume de uma reunião de contos sobre relacionamentos homoafetivos estrito senso. Nele não existem papéis sexuais muito definidos. São improvisos que têm como leitmotiv uma permeável disponibilidade para o sexo. Assim como um meio espelho através do qual fossem refletidas construções recorrentes de um eu que dissesse você. Assim como no jazz se define o scat singing: a réplica vocal de um instrumento de sopro; a voz mimetizando um instrumento. Sem palavras." — Heloisa Teixeira