Neste livro questões milenares de história e antropologia são analisadas por alguns dos mais importantes estudiosos da temática da cultura judaica no Brasil, Portugal, Espanha e Israel. Desde a complexidade que enfrenta quem se predispuser a definir a identidade judaica até contribuições novas às relações transculturais que envolvem judeus, muçulmanos e cristãos.
Marranos, cristãos-novos, criptojudeus, Bnei Anussim... Basta ler expressões como estas para que séculos de perseguições, conflitos e colaborações voltem a desafiar os novos intérpretes que aqui estão reunidos como num banquete à moda dos filósofos gregos antigos: o saber associado ao sabor.
Teria sido um judeu o autor do primeiro livro a exaltar o Brasil como um país de oportunidades. Ele prosperou como senhor de engenho na Paraíba de séculos atrás. Foram judeus os que influíram nos costumes de todo o Nordeste, especialmente, mas também nas demais regiões do Brasil. É impossível, portanto, pensar na história de mais de cinco séculos desta parte do mundo, sem a sua inserção intercultural, transcultural.
Personagens, acontecimentos e lugares essenciais na história do judaísmo desfilam nos textos de Ioram Melcer, Caesar Sobreira, Jorge Martins, André Oliveirinha, Renato Athias, Angel Espina Barrio, Daniela Levy, Geraldo Pieroni, Marcelo Walsh, Marcelo Miranda Guimarães, Francisco de Sales Gaudêncio, Luiz Feldman, Ana Paula Cavalcante, Jacques Ribemboim e Rosa Ludermir.
Ora é a identidade posta em questão, seja na contemporaneidade, seja nas ocultações do padre Vieira; ora uma leitura crítica da interpretação feita por Sérgio Buarque de Holanda na Visão do paraíso; ora as terríveis histórias da Inquisição e dos degredados, Mas também a alegria dos judeus no Carnaval do Recife e uma minuciosa cronologia de sua presença em Pernambuco, as grandezas de Ambrósio Fernandes Brandão, a saúde literal em um projeto comunitário em Penamacor, que envolve o patrimônio e o conhecimento, as confluências filosóficas e místicas na Espanha e outros sítios, o poder da Logoterapia.
Nesta obra organizada de teor acadêmico e cultural a grande palavra-chave é encontro. Encontro entre culturas, tempos e espaços de um povo sempre fiel a si mesmo. Mas em constante reinvenção. Contribuindo também para que outras se reinventam e aprendam lições de convívio, tolerância e valorização da identidade na diversidade, e vice-versa.
Numa época como a atual em que a luta pela abolição dos preconceitos entre os humanos e, em simultâneo, o respeito ao diferente, um livro assim é um convite à reflexão, a um mergulho, inclusive de autocrítica, na história comum do Brasil, Portugal, Espanha e dos judeus e seus descendentes. Leitura importante para antropólogos e historiadores, professores e pesquisadores, estudantes de todos os níveis. Para quem conhecer o passado ajuda a errar menos no presente e estruturar um futuro melhor. Uma aposta a mais em novas formas de iluminismo.
MARIO HELIO