O jazigo de um poeta jovem. Túmulo de uma poesia que se encerra?
Como muita coisa neste livro de Gabriel Mocellin, seu título é de uma simplicidade enganadora. Pois se "jazigo" é o lugar onde algo jaz, estende-se, pode muito bem ser que o que tenhamos aqui seja, de ora em diante, um levantar-se, um nascimento. Um soerguer.
E a qualidade da poesia que contém este Jazigo bem parece apontar nessa direção.
"Choque inelástico", como se anuncia já de saída, a poesia deste livro aponta não somente o embate, a dureza do combate de palavras e de mundo, mas também a fertilidade da abordagem e da formação do autor, que não hesita em fazer seus versos se servirem do que de mais "duro" possa haver na ciência. Formas de ver o mundo que se cria.
Formas de ver o mundo e as pessoas, e o eu que as enuncia, com uma sofisticação surpreendente num momento tão inicial da vida. O poeta que aqui se apresenta tem nada da ingenuidade que se poderia associar ao seu tempo de vida. Depois de se servir de réguas, compassos, de ideias e versos, ele chega a uma compreensão muito madura do papel da poesia como forma de expressão e comunicação, e, porque não?, também a uma leitura madura da vida, da realidade que matemática e linguagem procuram formatar.
O mesmo poeta que declara aquele choque frontal é também a voz que confessa que "a falta do obstáculo me afronta", um verso que bem podia ter saído da obra de Fernando Pessoa.
O mesmo garoto que quer usar a lírica como forma de dizer o que não se pode articular de outra maneira, produz também a bela imagem da palavra que, engasgada no cano da arma engatilhada, produz, apenas "soluço".
Nada de soluções. Pois "nós somos um abismo". E a resposta final, afinal, "é óbvia / Não há resposta". Não espere confessionalidade. Não espere sentimento fácil neste Jazigo. Espere confrontar vida e versos com a devida seriedade.
Caetano W. Galindo