"Mesmo no silêncio e com o silêncio/dialogamos", os versos do poema "Constante diálogo", de Carlos Drummond de Andrade, são uma porta entreaberta para o incentivo à leitura deste livro de Glauber Mizumoto que deseja mediar novas leituras de poesia. Ao se debruçar sobre o livro n.d.a, do poeta e músico Arnaldo Antunes, a sensível leitura do pesquisador dialoga com silêncios e espaços em branco que compõem a poética metalinguística e lírica do autor. Mizumoto demonstra como pensar no silêncio, os não ditos, os (inter)ditos desses poemas para encontrar na ponta da recepção o conceito de eutro que ele aprofunda, desdobra, em perfeita consonância com o eu e o outro do poeta, do leitor e do mundo, desvelando o diálogo em silêncio das palavras em estado de re-dicionário, prática do poeta que investiga sentidos dicionarizados ou não das palavras, numa fruição inventiva e renovadora da poesia contemporânea.
Músico também e praticante de meditação, Glauber Mizumoto tem bom ouvido e clarividência para buscar na poética concisa e cirúrgica de Antunes, o diálogo que lhe permite o avanço nos espaços meio abertos, meio fechados, da leitura de poesia. Ao propor uma leitura da palavra-conceito eutro em finas recriações de sentidos que ultrapassaram o poema de onde ele a extraiu, o autor deste livro propõe não só um entendimento afetivo para a poesia de Arnaldo Antunes, mas uma possibilidade de releitura que se estende em exercícios parapoéticos dos leitores, cada um, auxiliado pelos poetas e por outros leitores, a ser coautor da poesia de sua própria existência.