Maior filósofo da Antiguidade, talvez o maior de todos os tempos, Aristóteles nasceu em Estagira, então na Macedônia, em 384/383 a.C. Ingressou muito jovem na Academia de Platão, em Atenas, e lá passou vinte anos. Viajou bastante pela Ásia Menor, educou Alexandre, o Grande, e fundou o Liceu, seguindo o modelo platônico de amizade e liberdade para os alunos, com um espaço – o perípatos – destinado a caminhadas em grupo. Estabeleceu ali um museu de história natural e uma biblioteca de mapas e manuscritos, usados em um extenso programa de pesquisas.
O platonismo é o núcleo em torno do qual se constitui a obra aristotélica. Porém, ao contrário de Platão, Aristóteles dedicou-se tanto à filosofia pura quanto às ciências empíricas, coletando e classificando informações sobre a natureza e os seres vivos. Dividiu as ciências em três ramos: as teoréticas, que buscam o saber em si mesmo; as práticas, que buscam o saber para alcançar a perfeição moral; e as poiéticas, que buscam o saber para produzir objetos. A lógica não pertence a nenhum desses ramos: mais que uma ciência, ela é o instrumento preliminar de toda ciência, pois mostra como o homem pensa.
Depois da morte de Aristóteles, em 322 a.C., sua biblioteca pessoal ficou com Neleu, que a levou para a cidade de Scepse, onde permaneceu guardada – e esquecida – durante trezentos anos. Muita coisa se perdeu, mas o que foi recuperado influenciou decisivamente o desenvolvimento da filosofia e da ciência em todos os centros em que, desde então, a alta cultura prosperou: Grécia, Roma, Alexandria, Bizâncio, o mundo islâmico, com seus inúmeros comentadores, e, finalmente, a Europa, onde o legado aristotélico foi assimilado e reinterpretado por Santo Tomás de Aquino, contribuindo decisivamente para redefinir a teologia cristã.
A importância de Aristóteles não diminuiu com o tempo: ele permanece como um grande interlocutor da filosofia contemporânea, como atesta a obra seminal de Martin Heidegger. As categorias que criou transformaram-se em conceitos básicos e moldaram a própria estrutura dos nossos modos de pensar, expressar e pesquisar.
No ordenamento atual, o corpus aristotelicum contém tratados de lógica, filosofia natural, filosofia política, psicologia, ética, biologia, física e metafísica. Todos eles são resumidos e analisados neste volume pelo filósofo italiano Giovanni Reale, importante tradutor e comentador de Aristóteles.
César Benjamin"