Nunca fui santa. Nem queria sê-lo. Meu único propósito é descobrir o que me trouxe a
cama deste hospital. Não aguento mais minha imobilidade, nem os barulhos
intermitentes que marcam minha pulsação, nem o meu olhar perdido. As minhas
lembranças estão permeadas de aventuras em pranchas de surf, fuga de gente
estranha, brindes com amigos e uns quantos inimigos. Mas será que algum deles teria
a coragem de ir tão longe pra me deixar assim? Para descobrir isso conto apenas com
minha memória e com as pessoas fofoqueiras que entram e saem daqui. Será que
isso é o suficiente para engatilhar alguma lembrança? Será que poderei dizer isso a
alguém? Será que lembrarei de tudo alguma vez?