Neste livro procuramos investigar o paradigma antropológico na Filosofia da Educação, isto é, a crítica ao entendimento da educação como um projeto antropológico fundamental. A configuração antropológica do pensamento, que converte a Filosofia em uma analítica do homem, e a concepção de uma estrutura antropológico-humanista na educação impedem o exercício de um pensamento crítico porque paralisam, ao incidirem sobre uma filosofia da representação e do sujeito transcendental, o exercício de pensamento diante do desafio de investigar o tema do acontecimento na práxis educativa. Se por um lado é importante fazer uma análise da configuração antropológica do pensamento e uma crítica à concepção antropológico-humanista predominante nas reflexões sobre a educação, por outro, temos a intenção de sugerir que outra possibilidade é o exercício filosófico do pensamento no campo da educação como uma experiência e um acontecimento. Ou seja, com base em Gilles Deleuze e Michel Foucault, propomos um exercício de pensamento em que a Filosofia da Educação seja pensada no deslocamento entre dois domínios distintos e conflitantes acerca da natureza e do modo de pensar ou exercer a Filosofia (e, por conseguinte, de pensar filosoficamente a educação): por um lado, a imagem antropológica do pensamento, isto é, a configuração da filosofia moderna como analítica da finitude, que ainda nos é atual e que, como uma filosofia do Mesmo, permanece sendo essencialmente uma filosofia da representação; por outro lado, a abertura da Filosofia para uma nova imagem do pensamento ou um pensamento sem imagem, quer dizer, sem postulados ou pressupostos, um pensamento do acontecimento. Pensamos, a exemplo de Deleuze, que essas variantes da Imagem do pensamento são antes uma geografia do que uma história do pensamento, e é sobre essa geofilosofia, quanto ao plano de imanência, quanto ao que significa erigir imagens do pensamento, que fazemos a experiência de uma "démarche": a experiência da gênese do ato de pensar no pensamento.