María Eugenia Alonso tem 18 anos quando perde o pai e precisa deixar a Europa, onde viveu por doze anos, para retornar a sua Venezuela natal. O impacto da troca de Paris, em plena efervescência cultural dos anos 1920, pela monótona e conservadora Caracas, onde ela vai morar com a tia e a avó, a inspira a registrar suas impressões em um diário. Esse é o mote de Ifigênia – diário de uma jovem que escreveu porque estava entediada, da venezuelana Teresa de la Parra (1889-1936), autora inédita no Brasil até a publicação deste romance.
A nova vida de María Eugenia revela a realidade das mulheres na Venezuela no início do século XX, "submetidas a um modelo de resignação, quando nada mais lhes restava senão o 'bom matrimônio' com um homem de posses", como descreve Tamara Sender, tradutora e autora do posfácio do livro. O contraste com a realidade de Paris e a crítica à posição da mulher na sociedade caraquenha da época fez com que Ifigênia – cujo título remete à heroína grega que simboliza o sacrifício feminino – se tornasse um dos ícones da literatura feminista latino-americana da primeira metade do século XX. Publicado inicialmente em Paris, em 1924, o livro escandalizou alguns leitores venezuelanos e foi considerado por moralistas como "pérfido e perigosíssimo na mão das moças contemporâneas", como relatou a própria autora.