Em 'Identidade dissidente', Edgard Leite dá continuidade ao trabalho realizado em 'Predadores', em que aborda a história brasileira desde outro lado, resgatando fatos, contradições e ideias que, ao longo dos anos e devido a uma historiografia muitas vezes tendenciosa, permaneceram esquecidos. Um trabalho minucioso e uma tarefa árdua da qual o autor não se exime, mas enfrenta; assim como enfrenta certa tradição nos estudos históricos. Com uma escrita concisa, o autor desenvolve seus argumentos a partir da ideia de que, desde a revolução copernicana, a humanidade se voltou para a quantidade, em detrimento da qualidade. É justamente nesse mundo que emergirá o Brasil, uma vez que a chegada dos europeus se dará justamente no período em que os efeitos do giro copernicano instauram-se na Europa. Outro ponto importante para a compreensão da história brasileira será a laicização do Estado, que ganha força com o Iluminismo e tem na Revolução Francesa, sobretudo, o seu acontecimento mais agudo. Compreender a relação entre Estado e religião e, principalmente, a compreensão do conceito de espírito, será primordial para uma discussão acerca dos valores que moldam – ou deixam de moldar – uma sociedade. O livro termina com o evento de 1964, e o leitor certamente aguardará que o autor aborde, em livros vindouros, a continuação da história brasileira. Sempre com seu viés provocador e potente.