Taxado de "antirromance" pela crítica da época por sua ousadia formal inaudita, espécie de diário poético com forte sabor ensaístico, Húmus, publicado em 1917 — durante a década que mudou tudo, afinal de contas, na esteira da Primeira Guerra Mundial — é considerado um dos grandes precursores do modernismo português. O cenário é uma vila sonolenta, "encardida" e quase fora do tempo onde só se escuta "o trabalho persistente do caruncho que rói há séculos na madeira e nas almas", e os personagens são pouco mais que espectros, "que se agitam numa existência transitória e baça". Enquanto isso Gabiru, o personagem mais falador e intrigante do romance, faz as vezes de alter ego do autor ao se misturar com o narrador. É nesse húmus do título que se dá tanto a imobilidade da vila quanto o movimento mais vital, cíclico, da vida.