anto na Grécia Antiga como na Roma Antiga, não se fala de "homossexuais" nem de "heterossexuais", pois essas categorias não existem nesses períodos. No entanto, não se deixa de falar das práticas sexuais, percebidas e avaliadas segundo critérios que implicam a cidadania, o controle de si ou ainda a idade ou as modalidades da relação erótica. Algumas dessas práticas, entretanto, escapam a esses critérios e foram pouco estudadas até o presente: trata-se das relações amorosas entre mulheres.
Longe do que se imagina hoje a respeito da "amazona" ou da mulher devassa e entregue à luxúria, longe igualmente das imagens de Épinal dos amores sáficos e etéreos, a literatura e os documentos ilustrados repercutem atitudes e representações que Sandra Boehringer se empenha aqui em inventariar, decifrar e analisar.
E, ao fazer isso, esboça a cartografia de um sistema antigo de gênero, revelando uma organização social fortemente codificada. No mundo grego e romano, as leis do desejo são muito diferentes das nossas, e o erotismo se inventa onde não se espera.