Em Holograma, Mariana Godoy busca elaborar o luto pela morte do pai por meio de uma forte imersão na vida. Como ela mesma diz, com precisão: "colocar os fantasmas em seus devidos lugares é também / uma forma de proteção".
Músicas, filmes, uma partida de vídeo game — tudo isso vai compondo, no livro, comoventes memórias que reconstroem, por um lado, o ponto de vista da infância e, por outro, o ponto de vista de uma perda radical, perda que só pode ser dita como é dita — de forma vigorosa — pelo que chamamos de literatura.
Seus versos dizem que "o poema segue o próprio caminho / salta de um tempo pro outro de uma forma irregular". Já noutra página lê-se que "a resposta é algo que abre passagem pra trás / enquanto a pergunta é algo que abre passagem pra frente". E é neste caminho recém-aberto para frente e para trás que uma nova e potente temporalidade se instaura: a da poesia como forma de encontro transformador. Encontro entre poema e autora, encontro entre leitores e poema, encontro entre a vida e a vida.
Paloma Vidal, no texto de orelha, afirma: "Verso a verso, com repetições, rodeios, retomadas, este livro busca o sentido que reluz de algum lugar da infância, num limbo entre a memória e o esquecimento".