História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (1958-1964), de Fábio Ruela de Oliveira, é resultado de aproximadamente quatro anos de pesquisa e discorre sobre uma experiência da educação superior no Brasil, a do Instituto Isolado de Ensino Superior do Estado de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, criado em 1958 e que foi o embrião da Faculdade de Ciências e Letras, Campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Recompondo seu processo histórico de constituição, a obra trata também de um momento da história das elites intelectuais, culturais e políticas que estavam à sua volta e contribuíram para a sua formação. “O livro de Fábio Ruela de Oliveira é resultado de um trabalho acadêmico com a finalidade de obtenção do título de Mestre, realizado na própria faculdade que dá o título à obra, sob a orientação do professor Carlos Eduardo Jordão Machado. O título, que vem acompanhado de uma informação básica – Memória da formação da Faculdade de Ciências e Letras / Unesp –, já indica o caminho seguido na elaboração do presente texto, ao analisar a história de uma instituição até um determinado ponto de chegada, descrevendo uma etapa percorrida pela escola desde sua formação até sua integração a uma universidade. O relato é embasado em duas premissas fundamentais – formação e memória – formação, no sentido de criação, de surgimento de uma entidade que deveria seguir numa determinada direção, o que envolve conceitos, propostas, planejamento e metas a serem conseguidas. Tendo o autor realizado sua formação acadêmica nessa faculdade, seu relato contém um olhar retrospectivo para uma instituição que ele não viu nascer, mas que já estava estruturada, de certa forma, quando se iniciaram seus estudos universitários. Buscou então a visão do passado na memória alheia, o que foi determinante em sua opção pelas fontes informativas de sua pesquisa.”

Anna Maria Martinez Corrêa

História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (1958-1964), de Fábio Ruela de Oliveira, mobiliza vasta pesquisa documental, coleta de depoimentos decisivos e articula de maneira consequente um aparato teórico com extremo rigor. Publicado num momento em que a instituição universitária sofre com ataques e diversas tentativas de desmonte, o livro é muito oportuno para se conhecer o empenho intelectual e político, que aliou a consciência esclarecida de professores com a vontade política local para criar e consolidar no interior de São Paulo uma faculdade de ponta. Certamente inspirado pela Formação da Literatura Brasileira, de Antonio Candido, um dos protagonistas dessa história, Ruela conseguiu traçar as linhas gerais do processo de descentralização do ensino universitário na passagem das décadas de 1950 e 1960 e soube explorar as especificidades de um caso singular. Com essa perspectiva multifocal, o autor descreve e analisa a formação de uma faculdade, seu impacto para a cultura local e sua contribuição mais geral, especialmente no campo da literatura, quando se detém no Segundo Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária, do qual participaram intelectuais de peso, como Sérgio Buarque de Holanda, Anatol Rosenfeld, Roberto Schwarz, Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, João Alexandre Barbosa, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros ilustres. Como se percebe, o livro enfoca um capítulo fundamental da democratização da cultura no país, momento abalado pelo advento da ditadura civil-militar iniciada em 1964, sombra que volta a pairar sobre a universidade brasileira. Contra a escuridão ameaçadora, o trabalho de Ruela solicita mais luz, por meio da ciência histórica rigorosa com conceitos e comprometida com a sociedade.

Adilson Mendes - Historiador pela Unesp/Assis e Mestre e Doutor pela ECA/USP"