O estoicismo de Sêneca apresenta traços que refletem sua condição pessoal de homem novo, de ator na história do Império Romano e de um pensador bastante livre. As linhas de seu pensamento, que se podem chamar de estoico-senequianas, estão presentes em toda sua obra. A tragédia Hércules no Eta, juntamente com sua tradução, constituem a 1ª parte deste livro. A 2ª é formada pelo estudo do pensamento de Sêneca aí contido. Buscando como modelo principal As Traquínias de Sófocles, Sêneca em Hércules no Eta dá às suas personagens um tratamento tal que se pode ler, em suas palavras e em suas ações, a expressão das virtudes e dos vícios nos 3 níveis: cósmico, imperial e individual. A relação entre essas 3 instâncias é garantida, principalmente, pela tensão sujeito-objeto, presente em toda a Natureza como princípios ativo e passivo, e pela analogia como processo de conhecimento. A expressão máxima do princípio ativo é, no universo, o Logos; no Império, a razão do príncipe, e no homem, a razão diretriz. O vício é o desequilíbrio em qualquer uma das instâncias, e consiste numa inversão que deixa a Razão fora do lugar que lhe cabe segundo a perfeição da Natureza. O reequilíbrio, no âmbito do Universo, se faz pela "conflagração universal"; no Império, pelo comando de um príncipe virtuoso; no indivíduo, pela prática da virtude, sob o comando da razão.
Quanto à virtude (=sabedoria = liberdade = felicidade), o homem pode ser um stultus, um uacillans, um proficiens ou um sapiens.