Este livro objetiva estudar e partilhar os conceitos mais relevantes nas obras de contos do escritor angolano Boaventura Cardoso, respectivamente, Dizanga Dia Muenhu, O fogo da fala (exercícios de estilo) e A morte do velho Kipacaça, que contextualizam narrativas antecedentes à independência de Angola, ocorrida em 11 de novembro de 1975, após quase quinhentos anos de colonização luso-europeia. Saltam das páginas estéticas dramas substanciados na violência desferida pelo colonizador ao colonizado. Esse luta tenazmente, utilizando-se da memória, da palavra e do corpo, como forma de resistência ao sistema capitalista. Outro dado de resistência, reservado nas coletâneas, refere-se ao universo da religiosidade, substância valorativa para recomposição do homem negro banto e da própria nação angolana. Ao apanhar ambos os assuntos do contexto histórico e transformá-los em produto artístico há relevo à questão identitária, pois o autor recompõe as histórias recorrendo ao idioma do colonizador, fincando-lhe caracteres de uma das línguas nacionais de Angola: o quimbundo, utilizado pelo grupo etnolinguístico banto.
E, pulverizando o teor artístico do escritor angolano às terras do Brasil, igualmente fruto do colonialismo escravocrata administrado por Portugal, há a perspectiva de se refazer a História, ao se ressaltar o valor da presença africana e seu legado cultural na formação da sociedade brasileira.