Fazia bastante tempo que eu procurava um romance vigoroso e radical sobre a frivolidade que alguns setores da cultura contemporânea se tornaram. Glitter mostra com sarcasmo e força narrativa como o tal "mundo da moda" se aproxima da morte. É um livro sobre pessoas que acham que vão entrar para a história, mas estão apenas abreviando seu desfile rumo ao cemitério.
Com Tom Wolfe, autor de A Fogueira das Vaidades, Bruno Ribeiro aprendeu a descrição precisa e surpreendente. Nenhum detalhe fica de fora. O leitor também vai encontrar o rigor histórico, cheio de imagens fortes, de Luchino Visconti e a observação crua das perversões que fez do nosso Nelson Rodrigues um dos maiores escritores do século passado. De bastante original, Glitter tem uma análise refinada e cheia de nuances do discurso conservador que aos poucos foi se entranhando na nossa realidade e a tranquilidade com que transita nos vários gêneros.
Outra marca forte do livro é o tom impiedoso da narrativa. Apesar dele, porém, nada é exagerado: qualquer um que já esteve em um desfile de moda sabe que tudo é demais, sobretudo a artificialidade dos rostos, a irreverência falsa e mal disfarçada de todo mundo ali e a pulsão de morte que domina o espetáculo.
Glitter deixa o leitor atônito, por fim, porque junta tudo isso em uma narrativa fluida, inteligente e muito crítica. Não é fácil achar um romance assim por aí.
Ricardo Lísias