<p><b>Fortunato Poeira</b> , o protagonista ausente deste romance, é um "trecheiro" - um homem que vive entre a Terra e a comunidade Bertha Lutz, em uma lua agrícola, fazendo trabalhos braçais para sobreviver. Quando ele morre, seu amigo Antônio, fazendeiro em Bertha Lutz, encarrega-se de preparar seu funeral. O problema é que a burocracia não permite que a cremação aconteça antes que os familiares do falecido sejam avisados. E é quando Antônio, o narrador, e seus colegas se põem a buscar esses familiares que o verdadeiro drama da vida de Fortunato se desenha - e começa uma árida disputa não só pelo funeral, mas pela memória e narrativa da vida do trecheiro.</p> <p>A estreia de <b> Anna Martino</b> na <b>Cachalote</b> é uma dessas obras sempre bem-vindas que escapam das amarras do gênero. O universo da ficção científica é apenas o pano de fundo de uma história que vai muito além da descrição de utopias, distopias e afins. É mais um dado da realidade da narrativa. E como toda boa obra do gênero, fala mais sobre a experiência humana do que sobre traquitanas tecnológicas. Mais do que um livro sobre um futuro imaginário, <em>Fortunato Poeira</em> é um romance sobre um futuro possível que carrega as angústias e os anseios do presente. E, acima de tudo, uma boa história contada em um texto ágil, esperto e bem-humorado.</p>