O livro que temos em mãos traz à luz uma faceta pouco conhecida de Fayga Ostrower: a de designer de estampas. Vanessa Mendonça, pesquisadora sensível e pertinaz, segue o rastro de suas fontes com determinação e amor ao tema em doses equivalentes e, dessa forma, terminou por conquistar mais do que almejou. Foi esse o caso quando recebeu da viúva de Decio Vieira, Dulce Holzmeister, a coleção de
estampas da Tecidos Modernos, empresa fundada por Decio e Fayga na década de 1950. Com esse gesto de confiança e generosidade, Dulce tanto contribuiu quanto reconheceu a relevância da pesquisa de
Vanessa para a história da arte brasileira. A autora descortina uma parte da obra de Fayga que complementa seu perfil multifacetado: a artista, já consagrada no campo da gravura, estende-se para o design sem preconceitos ou purismos, pondo em prática a ideia de aproximação entre arte e vida, uma das influências da Bauhaus na arte moderna. Fayga Ostrower, que aderiu à abstração lírica e renunciou às obras de
cunho social (lugar privilegiado da gravura naqueles anos de 1950) por rejeitar a estetização da pobreza, tem nos tecidos a efetivação do ideal de levar a arte para um público maior e diversificado. A gravura, que já tinha esse caráter de democratização da arte por meio dos múltiplos, tem na atuação de Fayga e Decio uma afirmação desse impulso de abertura. Os artistas conquistam um grande público colocando por terra a crença de que a arte moderna não atendia ao gosto popular. Dessa maneira, ampliaram o alcance da arte ao atingir pessoas não acostumadas ao circuito oficial de exposições, integrando de fato a arte e a vida, a beleza ao cotidiano e ao espaço vivencial. E, como se isso já não fosse um grande feito, ainda colocaram o Brasil em evidência no mercado internacional. Um belo exemplo de socialização da arte para além das utopias.