José Augusto vive numa cidade de Salvador sob escombros no ano de 2222, de onde deseja viver um passado revelado por um velho livro que carrega consigo. Aos 25 anos de idade, ele pressente que é chegada a hora da viagem ao passado, 230 anos atrás, para testemunhar a emblemática viagem do Ver de Trem, que foi um marco na defesa das ferrovias brasileiras e do meio ambiente, num percurso ferroviário entre as duas primeiras capitais do Brasil, com destino à Eco 92 — o maior encontro de representantes de todos os povos do mundo.
Guiado pelo livro e pelas memórias do avô, José Augusto supera os medos e os escombros até chegar na velha Estação Ferroviária da Calçada, de onde aciona o dispositivo para a transição no tempo para viver a experiência tão desejada, no ano de 1992.
Da ficção para a realidade, "A Elite do Atraso", obra do sociólogo Jessé Souza, é tomada como referência nas análises da crise ferroviária brasileira e dos velhos estigmas da divisão entre classes sociais, que nos enfraquece em nossas lutas, privatiza e nos tira direitos. A semelhança com as crises recentes, entre 2016 e 2022, evidenciam a repetição dos nossos defeitos estruturais: a separação entre as classes, o racismo e desprezo pelos pobres, uma herança maldita que persiste em diferentes momentos da nossa história.
A arte toma lugar neste ensaio literário, com a música de Gilberto Gil sendo resiliente no tempo e na rota ferroviária entre Salvador e Rio de Janeiro, por onde as cidades do interior pararam suas atividades para recepcionar os viajantes. Diante da inexequível crise climática que nos assola, o livro é um convite à nossa conexão com o meio ambiente e com a nossa humanidade, no qual os serviços de mobilidades desfeitos são referenciais para a análise das vulnerabilidades a que são expostas as populações e as cidades brasileiras.